Meu querido Grande Hotel - Elysium Sociedade Cultural

Cida Magalhães*

 

Foi mais uma vez em que entrei
em seu saguão. Era primavera e o
flamboyant a sua porta vermelhava
à poesia.

C.M.

 

No ano de 2007, ministrei uma oficina de forma voluntária no espaço cultural, à época oficialmente designado por Centro de Memória e Referência de Goiânia, o Grande Hotel. Espaço que, mesmo com uma atividade bem diferente da atual, foi inaugurado em 1937, sob o signo de Aquário. Essa atividade, bastante necessária para uma cidade que se iniciava, foi a de hospedagem, se caracterizando então como o primeiro hotel da capital goiana.

Eu, como muitos goianienses ou radicados, já havia passado pela porta daquele prédio pintado em rosa déco. A maioria sempre correndo em busca de seus compromissos. E, pode ser, que nem tenham dado atenção ao edifício que hospedou grandes personalidades em sua fase de ouro. Porém, em um dia ensolarado, venci a timidez e adentrei o recinto, conversei com uma senhora que se encontrava na recepção, e, depois disso, foi se formando uma oportunidade de trabalho literário que viria a se tornar meu posto de trabalho formal por vários anos.

No início, ocorria aos sábados, depois do almoço, inclusive, tendo sido a dita oficina anunciada em dois dos periódicos mais importantes da capital. No entanto, oficina literária, no período vespertino, final de semana, mesmo cobrando apenas uma pequena taxa para a aquisição dos materiais, não atraiu um grande público. E por alguns meses, apesar de aparecerem outros interessados, foi mantido apenas um grupo menor de frequentadores assíduos: três alunos e a professora.

Costumava chegar ao Centro antes das quatorze horas, horário do início da atividade. Caminhava até o prédio onde morava a diretora do espaço cultural, ali na rua 20, para poder pegar a chave e abrir o Grande Hotel, doravante GH. E assim, nos instalarmos para mais um momento poético. Preparava o material didático ao longo da semana, nos intervalos do trabalho formal da época e esperava, ansiosa, o sábado para poder ministrá-lo.

De chofre, havia aceitado como tema das oficinas a poesia, e, depois, quando pensara melhor no assunto, bateu um medo de não ser capaz de fazê-lo. Era formada em Letras, sim, é claro. Mas, não tinha grande experiência em sala de aula, e menos ainda, no trato, exclusivo, com o objeto poético como tema de um curso.

Foi assim, que, após uma pesquisa na internet, encontrei um material que me pareceu bastante adequado para o que me propunha: “Análise e Interpretação de Poesia”, dos autores José de Nicola e Ulisses Infante. Adquiri-o em um dos sebos da Rua 4. Segui-o à risca, intercalando músicas, revisão de poesias dos alunos, conversas com eles sobre os temas abordados. Além de avaliação da oficina e dos conteúdos trabalhados. Mais do que uma relação docente/discentes, tornamo-nos amigos e nos falamos por muitos anos, mesmo depois do curso definitivamente encerrado.

Bem, é preciso terminar aqui este relato, mas o que foi registrado anteriormente, explica em parte, o grande carinho que tenho pelo GH. Um prédio que ademais de estar no coração desta cidade, também está presente no centro do meu mundo afetivo e histórico-literário. Vida longa e digna ao Grande Hotel!

 

Referências

UNES, Wolney (Coord. Ed.). Goiânia art déco: acervo arquitetônico e urbanístico ‒ dossiê de tombamento. Goiânia: Instituto Casa Brasil de Cultura, 2010.

NICOLA, José de; INFANTE, Ulisses. Análise e interpretação de poesia. São Paulo: Scipione, 1995. 79 p., il. (Margens do texto).

 

*Poetisa e Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Goiás (UFG).

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