Um poema em minha vida - Elysium Sociedade Cultural

Cida Magalhães*

Oh salvaje hermosura, la dirección erguida de
tus pasos, en tus ojos la chispa del desafío, pero
así como una flores desafiante, con la entereza
de una terrestre integridad, colmado como
un racimo, inquieto como un descubridor,
seguro de su débil arrogancia.

Pablo Neruda

 

No final da primeira década dos anos 2000, após um período de trabalhos na área da saúde mental, passei a me dedicar às atividades culturais. Foi neste período que, tive meu primeiro contato com o poema Oda al pájaro sofré, de Pablo Neruda. O que ocorreu por meio da leitura do artigo Uma cidade, um antropólogo, dois escritores e um pássaro, de Luciano Melo de Paula.

O interesse de estudos naquela época era o de travar conhecimento com fatos relacionados à história do primeiro hotel da capital goiana, visto que, Pablo Neruda também esteve hospedado neste local. A partir deste tema, em particular, foram se descortinando outros, ao longo de leituras de textos, apreciação de vídeos, e, em especial, de uma entrevista feita a um de meus alunos, companheiro de jornadas poéticas, o Senhor Manoel José Vieira.

Tendo sido um dos pioneiros de Goiânia, ele conta neste vídeo, feito com o apoio técnico de Paulo Prudente, suas peripécias de criança, no Bairro de Campinas, quando este era uma cidade que dava apoio à construção da nova capital. Poeta, cujo pseudônimo foi Goianáz, faleceu em 2009, sem jamais ter publicado um livro sequer com suas inúmeras poesias inspiradoras.

No que diz respeito à Oda al pájaro sofré, de Pablo Neruda, esta foi escrita para homenagear um pássaro recebido pelo poeta chileno enquanto esteve na capital goiana para o I Congresso Nacional de Intelectuais, que ocorreu de 14 a 21 de fevereiro de 1954, tendo atraído diversas personalidades nacionais e internacionais para a jovem capital do Estado de Goiás. O pássaro em questão foi-lhe ofertado por Amália Hermano Teixeira, historiadora, botânica, orquidófila, professora, advogada e jornalista. Apesar de toda sua beleza e inquietude, descritas nos versos da epígrafe deste artigo, o pássaro morreu, no Chile, provavelmente, de frio e foi enterrado no jardim do poeta, na sua casa de Isla Negra.

Oda al pájaro sofré foi apresentada em um encerramento de semestre dos Cursos Livres do Centro de Memória e Referência de Goiânia, Grande Hotel, em 2010, sendo lido por mim em espanhol e por Alessandra Rocha, em português, concomitantemente. Declamei-o em espanhol em 2018 ‒ após dois meses de intensos esforços para memorizá-lo ‒, no Dia da Poesia, da TV UFG, contando com legendas em português provenientes de tradução feita pela Professora Dra. Sara Gonzales Belaonia, da Faculdade de Letras, da UFG.

A referida poesia foi também declamada pela autora deste artigo nos eventos do Goiânia Art Déco Festival, no ano de 2019 (presencialmente na PUC- GO) e em 2020 (em versão on line), para os quais fui gentilmente convidada pelo Produtor Cultural Gutto Lemes. Assim, o poema de Neruda que me tocou desde a primeira vez em que o li, se tornou tão especial em minha vida, pois marcou inúmeros momentos poéticos e de confraternização cultural.

Tendo também me feito recordar de um fato ocorrido na infância, quando brincando com um pardalzinho que havia caído de uma árvore, acabei batendo sua cabeça no canto de uma calçada, o que provocou seu falecimento. Enterrei-o no jardim da primeira casa em que me lembro de ter vivido ‒ que é uma edificação que permanece viva em minha memória ‒, com a tristeza de uma criança não acostumada aos eventos da morte.

 

Cida Magalhães declamando em evento no Grande Hotel (Foto: Janine Waked)

 

Referências
BARROS, Francisco Messias Gomes. I Congresso Nacional de Intelectuais (Goiânia – 1954): Cultura Nacional, PCB e Hegemonia. Dissertação de Mestrado da Faculdade de Informação e Comunicação – FIC, da Universidade Federal de Goiás. Realizada sob a orientação da Professora Doutora Rosana Borges. Goiânia: 2018. Disponível em: https://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/8504. Acessos diversos.

DE PAULA, Luciano Melo. Uma cidade, um antropólogo, dois escritores e um pássaro. Disponível em: https://vermelho.org.br/prosa-poesia-arte/luciano-melo-de-paula-uma-cidade-um-antropologo-dois-escritores-e-um-passaro/. Acessos diversos.

CURADO, Bento Alves Araújo Jayme Fleury. Crônicas do Judiciário em Goiás. Goiânia: A Redação Editora, 2020, p. 59.

 

*Poetisa e Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Goiás (UFG).

 

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