Registrada como Patrimônio Cultural Imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis teve seu primeiro registro de 1819 e desde então os pirenopolinos fizeram da festa uma tradição do município, que mantém viva a cultura e a religiosidade do festejo. Promovida por devotos e leigos religiosos, a festa em louvor ao Divino Espírito Santo deste ano teve início em 26 de abril com a saída da Folia da Renovação Cristã, e termina no dia 30 de maio com a coroação do novo imperador da festa do próximo ano, na Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário.
A festa é realizada no período de Pentecostes, 50 dias após a Páscoa, e começa com o giro das folias, na zona rural e urbana. Os foliões partem para as visitas levando a bandeira do Divino com o objetivo de recolher donativos, chamar o povo para a festa e levar as bênçãos do Divino. Os donos das fazendas enfeitam suas casas, preparam o altar e muita comida para receberem a bandeira do Divino e os foliões. A cada noite, o grupo se reúne para orações, louvores e saudações ao Divino, junto ao anfitrião que os recebe, e em seguida são servidas tachadas de comida gratuitamente a todos os presentes – foliões e comunidade que vem de várias partes do município e também de cidades vizinhas para participar dos chamados “Pousos de Folia”.
Após o giro das folias, é iniciada na Igreja Nossa Senhora do Rosário a novena em louvor ao Divino Espírito Santo, que este ano aconteceu do dia 10 a 18 de maio. Além da oração do terço e celebração da missão, durante todos os dias da novena, a comunidade católica organiza, no Largo da Matriz, a Barraca da Família, um espaço para confraternização da comunidade e onde são comercializadas comidas típicas para levantar fundos para custear ações beneficentes da Igreja.
Cavalhadas
Introduzida em Pirenópolis em 1826, pelo Padre Manuel Amâncio da Luz, como um espetáculo chamado de “O Batalhão de Carlos Magno”, a festa manteve-se no município e é hoje a mais tradicional festa de Pirenópolis. Considerada uma das mais expressivas do Brasil, as Cavalhadas de Pirenópolis seguem um ritual de três dias, em que os cavaleiros se reúnem para os ensaios das corridas que vão realizar nos três dias do evento. Em 2024, as Cavalhadas acontecem de 19 a 21 de maio.
Nestes dias, às quatro horas da manhã, a Banda de Couros, formada por um saxofonista seguido de vários meninos empunhando rústicos tambores de couro, executando cantigas melodiosas, percorrem a cidade a pé avisando a população, e principalmente os cavaleiros, que é chegada a hora de se levantar, arrear os cavalos e dirigir-se ao ensaio. Primeiro, parte de sua residência o último cavaleiro dos doze de cada exército e, seguindo uma hierarquia, vão de casa em casa, agrupando o resto da tropa, até que, por último junta-se a tropa, o Rei.
A hierarquia dos exércitos das Cavalhadas segue, tanto para os cristãos como para os mouros, na seguinte ordem: dos doze cavaleiros, temos no mais alto posto o Rei, abaixo deste temos o Embaixador e seguindo abaixo os dez restantes cavaleiros. O último cavaleiro só subirá de posto se houver morte ou desistência de algum outro acima, o mesmo acontece com o Embaixador, que só tornar-se-á Rei se o próprio Rei morrer ou desistir.
Depois de reunidos os dois exércitos, estes seguem em fila hierárquica, com o Rei à frente para a casa de um cidadão que se prontificou a lhes fornecer, por cortesia e respeito, o desjejum matinal, chamado de “Farofa”. Neste vai e vem de cavaleiros cavalgando pelas ruas da cidade, não podem os cavaleiros cristãos se encontrarem com os mouros, a não ser na ocasião da Farofa e posteriormente no ensaio. Os cavaleiros, nesta ocasião, rezam em grupo e dançam a catira, uma dança folclórica onde se enfileiram frente a frente os 24 cavaleiros e, embalados por violas, pandeiros e canções, batem palmas e pés no ritmo cadenciado e típico. Após o agradecimento, que é feito em forma de cantilenas, ao dono da casa que ofereceu a Farofa, partem para o campo de ensaio.
O Domingo do Divino
No Domingo do Divino é repetido o mesmo ritual de recolhimento da tropa, só que ao meio dia, sem Banda e sem Farofa, e devidamente paramentados. A forma com que os cavaleiros se apresentam no campo oficial hoje, não são as mesmas de outrora. Antigamente os cavaleiros assemelhavam-se a oficiais de milícia, envergando farda militar de gala com galoneiras douradas e quepes de veludo, mas sempre cristãos em azul e mouros em vermelho, os reis e embaixadores usavam elmos de estilo romano.
Hoje, com a criação de tecidos sintéticos e a nova estética carnavalesca, os Cavaleiros se apresentam um tanto mais luxuosos, chegando a usar elmos de metal dourado, para o caso do Rei e Embaixador mouro, e elmos prateados para os cristãos. Todas as vestimentas são ricamente ornamentadas com plumas, metais polidos, pedras incrustadas, veludos, fitas e tecidos vistosos, e todos os cavaleiros sustentam longos mantos bordados e cravejados de lantejoulas multicores formando desenhos simbólicos das duas crenças, como o peixe ou a pomba branca para os cristãos e o dragão ou a lua e estrela para os mouros. Levam também uma lança, com fitas na ponta, uma espada e uma pistola com tiros de festim, para o combate. Os cavalos também são amplamente ornamentados, com patas pintadas, protegidos na fronte com metais polidos, e envergando plumas na cabeça.
As Cavalhadas iniciam-se sempre no domingo, no campo oficial construído para este fim, o Campo das Cavalhadas. Na abertura solene das Cavalhadas ingressam no campo todos os grupos folclóricos da Festa do Divino que fazem sua própria apresentação: Catireiras, Congados, Pastorinhas, Dança de Fitas, Banda de Couros, a Banda de Música Phoênix e os Cavaleiros Mascarados. Um dos momentos mais emocionantes da abertura é a evocação ao Divino sob execução do Hino do Divino pela Banda de Música. Toda a população fica de pé com chapéus na mão. No campo, voltados para os camarotes oficiais, os grupos folclóricos formam blocos à frente dos mascarados que se sustentam em pé sob o dorso de seus cavalos.
A encenação, que é a expressão máxima do evento, se dá em três dias e é composta por músicas específicas, carreiras equestres coreografadas, diálogos, exercícios e torneios à moda medieval.
Os Mascarados
Conhecidos também como “Curucucús”, por causa do som que emitem, são pessoas que se vestem com máscaras, roupas coloridas, luvas e botas. Mudam a voz ao falar e cobrem todo o corpo para que ninguém os reconheçam. Enfeitam seus cavalos com fitas, tecidos, plantas e tudo quanto a criatividade mandar. Tradicionalmente existem vários tipos. Os mais tradicionais são aqueles com máscara de cabeça de boi, seguindo pelos que usam máscaras de onça, máscara de homem, e mais recentemente apareceram aqueles com máscaras de borracha, com cara de monstro, desfocando um pouco a originalidade da festa. Mas isso não diminui a beleza e o entusiasmo dos Mascarados, que já no sábado saem às ruas à galope em algazarra.
A máscara de boi é a mais tradicional e só é encontrada entre os Mascarados de Pirenópolis. Outro mascarado muito interessante é o São Caetano, chamado assim, pois orna seu cavalo, escondendo-o com ramas de Melãozinho de São Caetano, erva trepadeira muito comum na região, e folhas de bananeiras. Leva na cabeça uma máscara de homem, com um chifre reto na testa, e na mão uma cesta de frutas que atira para a plateia. Outro muito engraçado veste-se com um macacão extremamente grande de tecido de colchão que recheia com capim, ficando enormemente gordo, envolvendo a cabeça com um pano preto onde pinta em branco a face de uma caveira.
Não se sabe a origem destes personagens, que são encontrados em todas as cavalhadas do Brasil com diversas diferenças entre as cidades. Eles se fundem com os cristãos e mouros num trinômio perfeito. Representa o papel do povo e daqueles que não tem acesso à pompa dos cavaleiros, que representam socialmente a elite e o poder. São irônicos e debochados, fazendo críticas aos poderosos e ao sistema. E, ao contrário da rigidez dos Cavaleiros, entre os Mascarados não há regras, tudo é permitido, menos mostrar sua identidade.
Características da festa:
Época – Pentecostes (50 dias depois da páscoa)
Local – Na cidade: igreja, casa do Imperador, pelas ruas, pelas casas, no teatro, na beira rio.
Na zona rural: pousos de folia nas sedes das fazendas
Duração – Cerca de 23 dias.
Significado – Receber o Divino Espírito Santo e suas bênçãos, seguidos, cujos preparativos começam uma quinzena antes, no início da Festa do Divino, que é marcada pela saída da Folia, assim como os apóstolos de cristo o receberam na festa de Pentecostes, distribuir esmolas e alimentos.
ACOMPANHE A FESTA
Novena na Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário – De 10 a 18 de maio, às 19h
Cavalhadas – De 19 a 21 de maio, a partir das 13h
Com informações do site da Prefeitura de Pirenópolis e do livro: A Festa do Divino Espírito Santo em Pirenópolis, Goiás: polaridades simbólicas em torno de um rito. Veiga, Felipe Berocan.