Em dezembro de 2001, o Centro Histórico da Cidade de Goiás, antiga Vila Boa, foi inscrito pela Unesco na lista do Patrimônio Mundial, um merecido reconhecimento à sua rica história, arquitetura e cultura que remontam ao início do século XVIII. A cidade testemunhou a expansão colonial brasileira e a exploração do ouro, erguendo-se como um símbolo vívido da ocupação do Brasil Central nos séculos XVIII e XIX.
A jornada para este valoroso reconhecimento começou décadas antes, quando o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) classificou individualmente alguns de seus monumentos e edifícios na década de 1950. Em 1978, o conjunto arquitetônico e urbanístico de Goiás foi oficialmente tombado pelo Iphan, uma medida crucial para a preservação deste extraordinário legado.
Com mais de 90% de sua arquitetura colonial original preservada, o Centro Histórico de Goiás se destaca como um magnífico testemunho do Brasil oitocentista, representando um dos patrimônios arquitetônicos e culturais mais ricos do país. Aninhado em uma região de beleza natural ímpar, este centro histórico mantém ainda hoje o charme primitivo de sua trama urbana, dos espaços públicos e privados, da escala e da volumetria de suas construções.
Ao ser o primeiro núcleo urbano oficialmente reconhecido a oeste da linha de demarcação do Tratado de Tordesilhas, Goiás assume um papel de destaque na história da colonização brasileira. Sua fundação está intrinsecamente ligada à saga dos bandeirantes, que partiram de São Paulo em busca de novas fronteiras e riquezas no interior do país. Este legado bandeirista é parte essencial da identidade cultural de Goiás, que se expressa não apenas na arquitetura, mas também na música, na poesia, na culinária e nas festas populares.
Entre estas celebrações, destaca-se a Procissão do Fogaréu, realizada anualmente na quinta-feira da Semana Santa, que ecoa os tempos coloniais e mantém viva a chama da tradição. Estas manifestações culturais são um testemunho da vitalidade e da riqueza da herança cultural de Goiás, que continua a inspirar e encantar visitantes de todo o mundo.
Para o diretor institucional da Elysium, Robson de Almeida, o reconhecimento do Centro Histórico de Goiás como Patrimônio Mundial não apenas celebra o passado glorioso desta região, mas também destaca a importância de preservar e valorizar a diversidade cultural do Brasil. “É um lembrete tangível da responsabilidade de proteger esse legado para as gerações futuras, garantindo que a história e a cultura de Goiás continuem a brilhar como um farol de inspiração e de orgulho nacional”, afirma.
Lista de Patrimônio Mundial da Unesco
Para ser reconhecido pela Unesco, um sítio como o do Centro Histórico de Goiás precisa atender a critérios rigorosos. A Unesco avalia não apenas a relevância cultural do local, mas também sua importância histórica e sua capacidade de representar uma herança única da humanidade. Além disso, a participação da comunidade local é crucial, destacando-se o papel do Iphan no processo de preservação e promoção desse patrimônio.
Robson destaca que a conservação do Patrimônio Mundial é um processo contínuo. “Após a inclusão de um sítio na Lista é fundamental que seja realizada a devida conservação desse patrimônio, visto que, se ele se degrada ou se algum projeto de desenvolvimento destrói as qualidades que inicialmente o tornaram apto a ser incluído na relação dos bens do Patrimônio Mundial, ele pode perder esse título”, afirma.
O diretor lembra que, duas semanas após receber o título, parte do Centro Histórico de Goiás foi destruída após uma enchente. “Foi preciso uma força-tarefa dos governos municipal, estadual e federal, liderados pelo Iphan, além do apoio da população e de entidades parceiras, para que os estragos fossem minimizados e o patrimônio edificado, reconstruído”.
Esse reconhecimento internacional não apenas celebra a história e a cultura da região, mas também pode impulsionar o desenvolvimento econômico sustentável por meio do turismo cultural. Robson destaca a importância de se reconhecer o papel dos gestores públicos e investidores privados na preservação desse valioso patrimônio cultural. “Muitas vezes, o apoio financeiro para as ações de preservação e conservação é viabilizado pelos mecanismos oficiais, como a Lei Rouanet, demonstrando o compromisso conjunto do setor público e privado com a proteção e promoção do patrimônio cultural brasileiro”, finaliza Robson.
Fotos: Rui Faquini, Flávio Isaac, Geraldo Gomes