Quando mulheres se reúnem para aprender, cuidar e empreender, toda a comunidade colhe os frutos. No final do mês de junho, ocorreu a formatura do projeto “Mulheres de São José: cuidar do patrimônio é cuidar de nós mesmas”, que ofereceu uma série de oficinas para moradoras da região, com foco nas áreas de saúde da mulher, estética, artesanato, gestão financeira e culinária. A celebração foi realizada no Centro de Múltiplo Uso de São José, em Cachoeiras de Macacu (RJ).
O projeto conta com patrocínio da Nova Transportadora do Sudeste (NTS) e apoio da Fundação Macatur e da Prefeitura de Cachoeiras de Macacu. As oficinas integram a contrapartida social do projeto de consolidação das Ruínas da Igreja de São José da Boa Morte, executado pela Elysium Sociedade Cultural, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), com apresentação do Ministério da Cultura.
Durante a iniciativa, as participantes ainda visitaram o canteiro de obras das ruínas, onde acompanharam o processo de restauração e vivenciaram uma aula sobre a importância da memória e do cuidado com o patrimônio histórico. As oficinas também foram registradas como projeto de extensão da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Para a aluna Adriana de Souza Modesto (51), o curso foi muito além da capacitação técnica. “As primeiras aulas me marcaram profundamente. Falar sobre saúde da mulher com acolhimento e escuta foi essencial. Isso muda a forma como a gente se vê. Quero continuar empreendendo e ajudando outras mulheres da comunidade”, afirmou Adriana, que atualmente trabalha com lavoura e revenda de carnes, doces e salgados, além de se dedicar ao artesanato com fibras de bananeira e jornal.
Já Silvineia da Silva Gonçalves (31) destacou a importância das trocas entre as colegas. “Me inscrevi por causa da culinária, mas encontrei muito mais. A convivência com outras mulheres me deram forças para sonhar com um futuro diferente”, lembra a aluna. Silvineia sonha em viver da confeitaria, com autonomia e estabilidade financeira a partir da produção de bolos, e se prepara para empreender na área.
Responsável pelas atividades de acolhimento emocional, o professor e psicólogo Ailson Junior lembrou do impacto coletivo da experiência. “Ali a gente criou uma identidade nova para o grupo. Elas agora podem olhar para diversos pontos de vista que uma mesma realidade pode produzir. Com novas ferramentas, confiança renovada e vontade de seguir em frente, essas mulheres reconhecem o seu potencial para abraçar infinitas possibilidades”, destacou o professor
Do cuidado à valorização do patrimônio
Aos olhos de quem coordenou o projeto, as oficinas se tornaram espaço de acolhimento e mudança real de vida. Segundo Giulyane Nogueira, diretora administrativa da Elysium, as mulheres da região se mostraram como o grupo que mais necessitava de ações direcionadas ao cuidado. Ela explica que, ao fortalecer a autoestima e o protagonismo das participantes, criou-se um terreno fértil para o pertencimento. “Foi a partir de muitos diálogos e escutas que compreendemos: preservar o patrimônio é, antes de tudo, valorizar as pessoas que convivem com ele”, conta a diretora.
Essa aproximação entre cuidado e cultura também foi sentida por Carol Gonzales, arquiteta residente nas obras das Ruínas São José. “ Ao serem incluídas desde o início da consolidação das Ruínas, as mulheres se sentem pertencentes ao lugar, e isso garante que ele será preservado com responsabilidade”, observa Carol ao destacar ainda a diferença visível entre o início das oficinas e o dia da formatura. “Elas chegaram com olhares desconfiados, mas saíram felizes e com a certeza de que são capazes de fazer a diferença, comenta a arquiteta.
A concepção do curso, segundo a produtora cultural Anabella Borghi, partiu de escutas sensíveis à realidade das mulheres locais. “Quando ouvimos os relatos de vulnerabilidade, soubemos que o acolhimento emocional tinha que vir primeiro”, lembra. O resultado foi um grupo forte e unido. “O vínculo extrapolou os limites da oficina e segue vivo no cotidiano delas, que se tornaram amigas. Foi um desafio que a Elysium abraçou com muita vontade de realizar”, ressalta Anabella.
Para a produtora, a cultura e a educação permitem um novo olhar sobre o ambiente e sobre a própria trajetória de vida, rompendo com a lógica da sobrevivência cotidiana e impactando as próximas gerações. “Muitas vezes, quando não temos esse olhar despertado, ficamos presos às demandas do dia a dia, casa, trabalho, filhos… Ao ampliar o acesso às expressões culturais, as pessoas passam a enxergar beleza, valor e sentido no que as cerca, desenvolvendo uma consciência coletiva”, explica.
Giulyane pontua que o projeto foi gratificante e que a Elysium já amadurece novas possibilidades de atuação na região. “Nosso desejo é que essas mulheres sigam fortalecidas e empreendendo nelas mesmas. A consolidação das ruínas é um marco, mas o verdadeiro legado está na transformação das pessoas e no fortalecimento da comunidade local. Por enquanto, estamos celebrando essa primeira empreitada, mas com os olhos e o coração abertos para os próximos passos”, ressalta a diretora.
A Elysium Sociedade Cultural, com seus 35 anos de atuação dedicada à valorização das expressões artísticas e à preservação do patrimônio cultural brasileiro, reforça seu compromisso com a sociedade por meio de contrapartidas como o projeto “Mulheres de São José”. Ao restaurar as Ruínas da Igreja de São José da Boa Morte, o grupo também investe na construção de um futuro mais inclusivo, criativo e consciente da memória histórica, proporcionando ferramentas para o desenvolvimento social e econômico da região.