O Dia Mundial da Arquitetura, celebrado em 1º de julho, marca não apenas a fundação da União Internacional dos Arquitetos, em 1949, mas também um convite à reflexão sobre o papel da arquitetura na vida das pessoas e na construção de cidades mais justas, inclusivas e sustentáveis. Em um país marcado por desigualdades sociais e apagamentos históricos, a preservação do patrimônio atua como um verdadeiro instrumento de transformação, e é nesse contexto que o trabalho desenvolvido pela Elysium Sociedade Cultural ganha ainda mais relevância.
Especializada em projetos de restauro, a Elysium se consolidou como uma instituição que alia excelência técnica à escuta sensível das comunidades em diferentes regiões do país. Para as arquitetas e os arquitetos que atuam na instituição, restaurar é muito mais do que conservar paredes, mas resgatar histórias, reconhecer identidades, ativar memórias e devolver à sociedade espaços que simbolizam seu pertencimento.
“Trabalhar com patrimônio é, acima de tudo, aprender a respeitar aqueles que vieram antes de nós”, afirma a arquiteta e urbanista Jéssica Marques. Integrante da equipe técnica da Elysium, ela participou de projetos emblemáticos como o restauro do Palacete TiraChapéu, em Salvador (BA), e a restauração dos salões do Jockey Club de São Paulo. “Projetar um restauro é um exercício constante de escuta, análise e humildade. É compreender o valor simbólico de cada pedra, de cada ornamento”, afirma.
Essa dimensão afetiva do trabalho é um traço comum nos relatos dos profissionais da Elysium. Para o restaurador Victor Massao, devolver um edifício histórico à população é como abrir uma brecha no tempo. “Quando encontramos um imóvel em estado deplorável e o restauramos, estamos negando, ainda que por um instante, a inevitabilidade do tempo. É como se disséssemos: ‘ainda estamos aqui, e isso ainda importa’”, reflete.
Na prática, o processo de restauro exige um mergulho profundo no passado. “A primeira etapa é sempre a pesquisa histórica, que nos orienta em todas as decisões posteriores”, explica Jéssica. Depois, seguem-se os diagnósticos técnicos, os levantamentos de danos, exames laboratoriais e mapas de patologias. Só então se elabora o projeto de intervenção, que precisa equilibrar a preservação com as necessidades contemporâneas, como acessibilidade e novos usos.
Essa mediação entre o que foi e o que ainda pode ser é um dos maiores desafios, e também o maior fascínio, para os que atuam na área. “O restauro é uma forma de manter viva a memória, sem apagá-la sob camadas de novidade”, diz Amanda Theodoro, arquiteta da Elysium. “Nosso papel é equilibrar passado e futuro, transformar sem descaracterizar.” Amanda viveu de perto esse processo no projeto de consolidação das Ruínas de Macacu, em Cachoeiras de Macacu (RJ), um dos mais significativos da sua trajetória. “Acompanhei o projeto desde sua concepção até o início da execução, o que gerou um vínculo profundo, quase como um filho”, revela.
Assim como Amanda, a arquiteta Carolina Gonzales também vivencia a experiência de atuar em sua própria cidade. Ela lidera as obras de consolidação das Ruínas da Igreja de São José da Boa Morte. “É um orgulho imenso ver um projeto tão esperado se concretizando. É como devolver à comunidade algo que lhe foi tirado há muito tempo”, relata.
O trabalho com patrimônio também impõe desafios específicos às mulheres arquitetas, sobretudo em canteiros de obras ainda majoritariamente masculinos. “Liderar uma equipe exige mais do que domínio técnico. É preciso conhecer todos os processos envolvidos, desde a viabilidade econômica à gestão e execução, para que nosso posicionamento seja respeitado”, afirma Amanda. Carolina complementa: “Quando tratamos todos com igualdade, tendemos a receber o mesmo em troca. Isso constrói um ambiente de respeito mútuo, fundamental para a realização dos projetos”, afirma.
Para além das questões técnicas, o restauro é, para esses profissionais, um compromisso ético com as gerações futuras. “Não basta apenas preservar por preservar. É preciso compreender o que faz daquela edificação algo digno de ser transmitido adiante”, pontua Victor Massao, que atua como coordenador do curso do Ateliê de Artes e Ofícios, do Jockey Club de São Paulo. Apaixonado por arqueologia e história, ele define o trabalho no patrimônio como uma batalha poética contra o tempo. “É uma área de poeira, de umidade, de pegadas deixadas em pisos que não veem luz há décadas, de silêncios quase sólidos, e mesmo sabendo que lutar contra o tempo é fútil, lutamos ainda mais”.
Nesse Dia Mundial da Arquitetura, os profissionais da Elysium deixam conselhos valiosos a quem deseja seguir esse caminho. “Estudem com profundidade, conectem-se com a história e com as pessoas. Trabalhar com patrimônio é um percurso de escuta constante e humildade”, orienta Jéssica. Victor conclui com um chamado: “Se tudo isso fizer sentido para você, só posso desejar boa sorte e dizer que será um prazer trabalhar contigo!”
Entre pedras, memórias e sonhos, os arquitetos da Elysium seguem, todos os dias, construindo não apenas edifícios restaurados, mas pontes entre o passado que nos formou e o futuro que desejamos habitar.