Torre do Relógio e Coreto da Praça Cívica são exemplos irretocáveis do art déco de Goiânia - Elysium Sociedade Cultural

O diretor-técnico da Elysium Sociedade Cultural, Wolney Unes, um dos maiores estudiosos do art déco do Brasil, concedeu entrevista ao jornalista Clenon Ferreira, do jornal O Popular, para uma série de reportagens sobre o centenário do movimento que influenciou o movimento da capital goiana. Confira:

[Reprodução O Popular]

Lá do alto, o tempo parece não se movimentar desde 1942, quando a Torre do Relógio foi erguida em pleno início da Av. Goiás. No corre-corre dos dias, ele pode até passar despercebido por muitos, mas para o diretor do Goiânia Art Déco Festival, Gutto Lemes, a maior obra-prima do art déco da cidade é, sem sombra de dúvidas, o relógio de quatro faces. “Seu revestimento em pó de pedra de malacacheta na cor cinza e a coroa ornamentada com estilismo geométrico o faz imponente e requintado”, defende.

No ano em que se comemora o centenário do art déco no mundo , o Popular dá continuidade a série de reportagens sobre como o movimento arquitetônico influenciou o nascimento da capital. Goiânia, projetada nos anos 1930, incorporou o estilo em suas construções públicas e privadas, tornando-se uma das cidades brasileiras com maior número de obras nessa linguagem. A Torre do Relógio, além de falar sobre tempo, também reverbera questões relacionadas ao espaço público e ao surgimento da Av. Goiás, que passou por tantas mudanças e transformações. “Projeto do arquiteto Américo Vespúcio Pontes, esse exemplar único e monumento de utilidade pública, traz um relógio de quatro faces e um sino que badala informando as horas. Uma obra prima do art déco goianiense”, explica Gutto.

Nos anos 1940, relógios públicos e sinos de igrejas eram os principais mecanismos para a população da cidade se informar sobre as horas no decorrer do dia. Não por menos, a Torre do Relógio foi erguida em um ponto estratégico da Av. Goiás: ao lado da Praça Cívica e dos principais edifícios públicos e órgãos administrativos da então nova capital de Goiás. A torre foi inaugurada no dia 5 de julho de 1942, como parte do Batismo Cultural de Goiânia, evento que marcou a oficialização da capital e a inauguração de diversos edifícios e espaços públicos. Em 2003, o relógio e outros 21 monumentos e edifícios de Goiânia foram tombados pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural Brasileiro, protegendo o conjunto arquitetônico da cidade.

“No alto, o relógio exibe diversos desenhos geométricos, tanto na horizontal como na vertical. Sobre o mostrador, um elemento vazado com curvas sinuosas faz uma síntese do art déco, que se completa com frisos e ornatos geométricos no coroamento da torre”, descreve o pesquisador Wolney Unes no livro Goiânia Art Déco – Dossiê de Tombamento (2010). O profissional, um dos maiores estudiosos do movimento arquitetônico na formação da capital, ainda destaca a intervenção que o bem patrimonial passou em 1998, com pintura de esmalte nas ferragens e recuperação da iluminação interna.

Em 2021, o Iphan restaurou o monumento em uma obra que custou mais de R$ 600 mil. Na época, toda a parte de maquinaria foi trocada. Passados quatro anos, o relógio já parou de funcionar. Em nota ao Popular , a Secretaria Municipal de Cultura (Secult Goiânia) informa “que a Diretoria de Políticas, Ações e Patrimônio Cultural tem uma equipe técnica que faz vistoria periódica aos monumentos culturais da cidade tombados pela Prefeitura de Goiânia, que infelizmente sofrem com a ação do tempo e com o vandalismo”.

Palco de histórias
Imagina a cena: Goiânia, 1942. No dia do Batismo Cultural, moradores vindos de todos os pontos da cidade, de Campinas ao antigo Bairro Popular, se reúnem na Praça Cívica para apreciarem a apresentação da banda sinfônica, que faz a estreia do Coreto. Um dos principais ícones art déco, o monumento é uma joia arquitetônica no meio do Centro da capital. “Pela riqueza de detalhes e cuidado no acabamento, é um dos exemplares mais elaborados do art déco goianiense. Na escadaria há um contraste entre elementos retos e circulares, que se repetem nos palcos internos”, comenta o pesquisador Wolney Unes. “O rendilhado no alto da murada externa proporciona um jogo de luz e sombra. O conjunto dessas características faz deste monumento uma pequena obra-prima”, completa.

Projetado pelo arquiteto Jorge Félix, o mesmo do Teatro Goiânia , ao longo das décadas o Coreto passou por modificações, como nos anos 1970, quando foi descaracterizado, se transformando em ponto de informações turísticas. Em 1978, o então prefeito Hélio Mauro Umbelino Lobo fez com que a obra voltasse ao modelo arquitetônico original, sendo necessário que a prefeitura fosse buscar o pedreiro que havia participado da primeira construção, anos antes.

Palco de diversas manifestações, como festas, cortejos, pronunciamentos políticos e manifestações sociais, o Coreto passou por uma reforma em 2020, em um minucioso trabalho de recuperação integral da laje, bancos em granitina e revestimentos de pedra portuguesa na área externa.

 

Foto: Diomício Gomes (O Popular)

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